Antes que você se dê conta de que houve um fim, todo um novo começo já está em andamento, o universo muda as rotas de pessoas que cruzarão o seu caminho, ele influenciará fatos que instiguem seu pensamento a criar determinadas emoções, ele vai te apaixonar outra vez e com certeza você acabará n'outro fim, antes que se dê conta, n'outro início. Se olharmos despreocupadamente isto é motivo para festejo, sabemos que a vida é "curta" e precisamos aproveitar o máximo dela, os interesses carnais sussurram ecos que trazem sugestões ao meu pensar; meu corpo dança a vibração de ondas que me cruzam, o festejar das notas de um Flautim me fazem empolgar e animar um futuro certo, constante, algo consistente. Meu pensamento atua como buscador de Luz tentando propagar e emitir bons ecos e vibrações, mesmo sabendo que as ações concretas acabam mudando tudo para sempre.
Depois de alguns amores me vejo preso ao ressoar de uma bela e encantadora melodia romântica, no dançar suave e desdenhoso de um jovem músico que ainda não sabe tocar, mas não se preocupa com isto. Encontrei de novo na Arte um refúgio para meus sinistros pesadelos, medos e segredos. Inconfessáveis por palavras ou gestos, encontram em silêncio, expressão convicta nas ondas sonoras. Meu corpo sedento por qualquer manifestação de carinho ou preocupação continua vagando dia entre dia, como uma névoa de poeira num vasto deserto assolado pela seca, sem destino, levado pelos ventos. Rejeitei toda plasticidade e mentira que pudesse me enganar ou iludir. Foi uma péssima ideia levando em consideração a geração utilitarista e descartável na qual fui inserido, as pessoas se usam e se descartam. Se enganam e se vingam reciprocamente. O ciclo é sem fim e o resultado é o agora, despreocupação com o próximo e foco total no prazer e na felicidade. Penso que foi uma má ideia por ter dificuldades em encaixar-me nos padrões sociais de comportamento, interesse, objetivos e modo de ser. Para falar a verdade eu já nem sei mais para onde vai minha escrita, sinto vazio o pulmão que inspira minhas palavras.
Depois de escrever várias paginas vazias de motivação
cheguei a uma canção específica que tocou meu ânimo com um dedo pontiagudo
senti espetando um canto meu, acolchoado por tapetes velhos, cortinas emboloradas.
Minha respiração ficou ofegante como se fosse espirrar, só de pensar na poeira.
Quadros não tão antigos ilustravam um cômodo que me servia como poço de nostalgia,
lembranças doces e amargas, divertidas e ácidas. Sambando na minha mente.
Minhas mãos e cada átomo do meu corpo perguntavam a mim mesmo
seu eu faria diferente se pudesse fazer de novo:
"Não, não faria... faria tudo igual, tudo de novo..."
Apesar do vazio desmotivado ainda olho pra Lua com paixão,
aprendi, apesar de ainda estar aprendendo, a pegar num instrumento
entendi, apesar de ainda estar compreendendo, a fazê-lo chave para meu coração.
E depois de tantos buracos, empurrões e armadilhas
finalmente pude acessar meu velho Castelo sem ter que socorrer-me à escrita.
O trompete me soa hoje mais reflexivo, não tão dolorido.
Parece querer expressar algo além da dor e do sofrimento, das incertezas e dececpções...
e é sempre bom ouvir um bom som de metal para alcançar-se o coração.
Acredito que um bom Homem sempre irá querer alcançar o seu coração.
Mesmo depois de tantos parágrafos, estrófes, textos e diversos títulos
nada foi produzido de verdade. Nenhum sentimento conseguiu se fazer entender de fato
pois nada perceptível corporeamente será capaz de fazê-lo, é bastante simples...
um sentimento ressoa numa vibração diferente da que existe a matéria, o corpóreo..., por isto encontramos sérias dificuldades em explicar o sentimento, ou fazer-se entender o que se sente.
Muitos de nós acredita ser impossível depois de tentar muito, até desistir.
Desistir de expressar o próprio sentimento, de alcançar o próprio coração, de lutar e vencer a própria mágoa.
Muitos de nós acende outro cigarro, pede outra dose... dorme outra noite.
Mas é inevitável que despertemos num momento em que camuflar e calar os sentimentos será impossível, tudo irá borbulhar e sair pela boca, quase afogando.
É aqui que voltamos aos festejos. Do fim ao início, sem que você se dê conta, outra vez.
É aqui que pedimos outra dose, acendemos outro garrante, caímos de novo no poço de nostalgia que nos afoga com um mar de sentimentos calados, mudos.
"Volto para dizer que estou entorpecido.
Vaguei por muitas noites buscando um novo quarto para me aconchegar, escrever nas paredes, fazer colagem e postagem de fotos de novas experiências. Comprar um novo número, frequentar outros lugares e cruzar outras vidas.
Volto para dizer que estou entorpecido.
Sem sucesso acabei minha desilusão soluçando um rum barato num lugar sujo, escuro e fétido. Ali dei os últimos goles da esperança que acordava meu coração todas as manhãs. Ali abri as portas que trancavam meus demônios e pesadelos. Foi ali que vi a enorme nuvem escura da blacksunshine tomar conta do meu céu, de novo...
Volto para dizer que estou entorpecido.
O tempo passa e depois de alguns dias você percebe que não basta encarar sofrimento, é preciso vencê-lo de queixo erguido, com sorriso. Podemos notar a capacidade de um ser humano em vê-lo sorrir. É engraçado mas não faz rir, perder o motivo de sorrir recai como uma máscara no seu semblante. Sua imagem se dá mais séria e sofrida, seus olhos brilham com um tom diferente.
Eu volto mas eu não sei dizer porque. Meu coração toda vez diz que jamais vai retornar, minha mente concorda e sigo em frente. Mas, miséria! Eu acordo n'outro dia qualquer e meus pensamentos são teus. Dias cinzas em que não posso tocar flauta nem escrever poemas. Dias de gravata e decisões díficeis. Eu sempre volto mesmo sem ter a intenção, acabo aqui derrotado por um sentimento rebelde que se recusa a deixar meu templo.
Eu volto enfurecido comigo mesmo por isto. Ainda no caminho soco minha própria cara com força o bastante para sangrar. Ainda no caminho paro e sento na calçada, choro e soluço, sozinho, tentando dizer à solidão como tem sido os ultimos dias da minha vida. Tentando esclarecer ao intransponível como venho sentindo.
Volto apesar de nunca ter partido de verdade. Volto com o rabo entre as pernas sem arrependimento, mas com a experiência adquirida de uma vida seca e faminta da cidade. Volto sem rimas nem chocolate para dizer, não um 'perdão', opaco e vazio, mas sim um 'voltei', renovado e determinado.
Volto apenas para dar Boa Noite ou Bom Dia, dependendo da hora que se lê,
voltei para dizer que estive de volta."
"Hoje eu vejo com outros olhos
todas as decisões e escolhas que tomei pra mim, a vida toda
Todas elas diziam algo para mim. Talvez eu estivesse em outro lugar,
sentindo outras emoções neste momento.
Eu já fui você, jovem frio e de coração quebrado.
Mas um dia eu voltei para casa e olhei a janela do meu quarto.
Hoje eu vejo com outros olhos
mas sei que todas aquelas escolhas me ajudaram a ser quem sou.
E afinal posso dizer que as coisas deveriam ser como foram.
Apesar de eu sentir que estou dilacerado pelas minhas crenças
elas me trouxeram algo do que eu sonhava do mundo.
Hoje eu vejo com outros olhos
e as vezes penso como pude ser tão estúpido, mudando minha vida
para pior, colocando o barco para uma direção perigosa, de tempos difíceis.
Eu caminhei sentido a escuridão e atravessei o mar bravio,
passei pelas rochas que quebraram meu casco, enfrentei ondas que me engoliram.
Mas eu não desisti. Segui em frente. Não fraquejei, mantive o remo.
Toda tempestade tem sua lição de vida, acredito ter adquirido mais uma para a minha.
Um viajante deve aprender a gostar de tempestades
pois é no silêncio que o combustível acaba e todos se vão
geralmente está tudo escuro quando não lhe resta opções.
É aqui que encontramos outro fim grudado a outro início, sem um ponto final dizendo onde acaba ou inicia."
Sallut
12.05.2016
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