Eu contaria essa história para meus filhos mas acho que eles não dariam a mínima. Contaria para os meus sobrinhos mas estão longe. Contaria para meus netos mas ainda não tenho. Relembraria então cada fato, cada acontecido de todos os dias pois, foi a coisa mais importante que me aconteceu em toda a minha vida...
Dia 4 de fevereiro, minha mãe havia morrido de ataque-cardíaco e eu também já era órfão do meu pai, ele morreu três dias depois de eu nascer voltando do mercado, em um acidente. Eu tinha 7 anos de idade e depois que minha mãe morreu eu fui morar pra casa da minha tia, junto com minha irmã.
Agente não podia escolher muito, ela era bem humilde mas era uma moça simpática e gostava da gente e procurava sempre agradar. Foram alguns dias de silêncio e de noites choradas sentindo falta da minha mãe, foram alguns dias que eu deletei da minha memória e decidi que não os traria de volta de modo algum..
Depois de algumas semanas na casa da minha tia ela me ordenou que eu fosse tomar um pouco de Sol, brincasse com as crianças e delatasse os problemas da minha mente mas era inútil..
Apesar de questionar muito eu acabei saindo junto com minha irmã, ela era a minha unica companhia e a unica que não gostava de ouvir o que eu tinha a dizer, era difícil lidar com ela, ela sempre foi meio rebelde..
Depois de várias horas tediosas sentado lá, olhando para o nada enquanto recebia o calor do sol eu vi um Anjo.. Ele caminhava suavemente e tinha cabelos loiros, olhos verdes bem claro e era uma princesa, pequena com os cabelos cacheados, uma verdadeira boneca. Notei que ela estava mostrava mais empolgação do que todas as outras crianças, era feliz e parecia tão bem. O dia acabou e ela não saiu da minha cabeça pelo resto da noite, foi, de fato, a primeira noite que eu fiquei sem imaginar aonde e como minha mamãe estaria, fiquei pensando naquela menina de olhos verdes saltitando com um enorme sorriso faltando-lhe alguns dentes na boca. Foi a noite mais tranquila da minha vida..
Enfim, passaram-se 8 anos, eu e minha irmã estamos ambos com 15 anos de idade e até que melhoramos a nossa comunicação mas, ela continuava me dando cortes sempre. Durante todos esses anos eu acabei por conhecer a pequena menina de olhos verdes e cabelos cacheados, seu nome era Julia. Durante todo esse tempo fizemos um laço tão forte de amizade e confiança que o tempo passou e as noites tranqüilas pensando nela se transformaram em horrorosas horas e horas de escuridão voltada em lágrimas de tristeza e só tristeza. Eu passei a amar ela em tão pouco tempo, aquela pele doce e delicada e seus olhos que me davam segurança nunca me diziam o mesmo, nunca revelavam seus sentimentos.. Embora algumas vezes eu já tenha ficado em dúvida se ela gostava de mim como eu gostava dela.. era uma coisa tão simples mas ao mesmo tempo tão complicado.
Eu passei tantas noites em claro pensando em como conquistar ela e hoje sei que foi tudo em vão, tudo em vão.
Amo ela a tantos anos e até hoje não tive coragem de contar a ela o que eu sinto, minha irmã já me dizia varias e varias vezes para dizer logo à ela, que eu não tinha nada a perder.. Realmente.
Quando numa noite, sonhei o que eu não havia sonhado a vários anos, sonhei com minha mãe e com o sorriso dela. Óh.. já havia me esquecido daquele brilho e daquela segurança que ela me passava com o seu abraço e seu sorriso.. Mamãe..
Mamãe dizia que eu tinha que contar pra ela, era uma obrigação minha para com o meu coração , coitado, que culpa tem?
Numa noite fria de lua cheira enchi o meu peito de ar e fui até o quarto da minha irmã, elas estavam lá, Julia ia dormir na minha casa esta noite e essa era a minha oportunidade de me abrir com ela..
Minha irmã, não se que modo ou o porque ela fez isso, se retirou do quarto quando eu bati na porta as 4 horas da madrugada, elas estavam acordadas.
Quando eu entrei no quarto Julia estava chorando e minha irmã se surpreendeu me vendo entrar no quarto e ver aquela cena.
Nunca vi aquele rosto lindo e delicado derramar uma lágrima, uma parte de mim queria desviar totalmente do assunto e querer saber o que faz mal à ela. Outra parte de mim queria ignorar e sentar-se ao lado dela e conta tudo, tudo de todas as noites e de todos os poemas que eu escrevi pensando nela e no sorriso ingênuo que ela fazia sempre que eu olhava no fundo dos olhos dela e sentia medo, não sei por que, e desviava o olhar para o chão...
Foram algumas horas tentando fazê-la parar de chorar e eu finalmente consegui, disse de uma unica fez que a amava.
Disse de uma unica vez que choro todas as noites pensando em como seria mais bonito se o sorriso dela sempre fosse conseqüência do carinho que eu dava para ela, disse que escrevia poemas tristes e fantasias felizes de como eu gostaria que ela fosse minha mas não a tenho. Disse da maneira mais rude e direta que eu a amava, que era louco por ela, minha paixão tinha dominado por completo meu coração e estava tudo escuro e ela, de repente, com seu caminhar suave e seus cabelos cacheados me conquistaram tão bem, tão bem...
Sua reação não foi como eu esperava.. eu infelizmente não tive tempo o suficiente para fazer uma ultima coisa, para fazer o meu desejo mais forte..
A princípio eu sempre quis trazer a minha mãe de volta caso eu tivesse direito a um único pedido, mas a partir daquele momento, tudo mudou.. tudo...
Hoje moro em Londres, tenho 28 anos e sou casado, tenho três filhos, todos meninos. Trabalho com gerenciamento de uma empresa de carros, daqui. Minha mulher é linda e esta grávida de novo.
Mas ainda hoje, até hoje, ela gostaria de saber porque é que a Lua sabe de todos os meus segredos e não ela.. Tenho um costume estranho de conversar com a Lua e achar que meus pensamentos são suas respostas.. Minha mulher nunca entendeu isso.
Guardo comigo a última lembrança que eu tive do amor da minha vida..
Você seria a minha eterna luz caso a minha visão
não fosse tão prejudicada..
Eu queria poder te ver sorrir novamente assim que você acordar
e ver que eu estou do seu lado.
Na verdade sempre estive, mas oculto, te observando com atenção e vendo se você precisava de mim..
Culpa minha não ter notado que você nunca deixou de precisar de mim... nunca... nunca.
Foi meu último poema, o ultimo que eu escrevi para ela...
Aquela noite em que me abri pra ela foi a mais linda de toda a minha vida. Ficamos horas abraçados em um silêncio implacável trocando carinhos e, de vez em quando risadas de alguma cócega que fez.. Eu olhei para a lua, era lua cheia. E conclui que o meu coração naquele momento estava cheio, finalmente, completo. E agradeci, a Lua é a única testemunha de que eu fui feliz durante somente uma única noite, na minha vida enteira.
Eu te amo, eu repeti isso milhares de vezes mas acho que não foram o suficientes.
No dia seguinte fui levado para Londres, meu tio me levaria para lá para estudar sobre algo e, eu não tive tempo e nem oportunidade para dizer à Julie com atos o quanto eu a amava.. Perdi o meu tempo, perdi a minha vida.. perdi o meu amor.
Sallut
20.09.2010
Sempre tocante e inventivo. Parabéns pelo post, filhote!
ResponderExcluirValeu pai !
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