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terça-feira, 1 de julho de 2014

Imagine. [11]

Cheguei no silêncio, em silêncio. Sentei-me e apenas observei. Devo ter calado até meus pensamentos, pois não sabia no que pensar. Apenas ouvi... o silêncio. Tentava não rompê-lo, apenas ouvi-lo. E lá escondiam-se coisas que mesmo depois de tanto tempo comigo eu não reconhecia. Não confundia-se com o escuro ou o obscuro...
Mas não é por aí que quero te levar, hoje... existe outro lugar...

"...o silêncio da madrugada era tudo o que precisávamos para ter a melhor noite de toda nossas vidas. Naquela cabana em cima daquela montanha eu estava dormindo esta noite, fazia uma belíssima noite. Estava uma noite quente mas os ventos faziam com que fosse uma noite não tão fria. A cama era ao lado da janela de madeira que estava aberta, deitado do lado esquerdo meu olhar fugiu do sono para encontrar atenção no céu estrelado da primeira noite de julho daquele ano. O cobertor de pano de xadrez me aquecia como uma fogueira. A Cabana era pequena e fria. Com a janela aberta meu corpo precisava de mais ajuda para manter-se quente. Mas em meus braços tinha meu amor, com as pernas envolvidas entre as minhas respirando contra meu peito. Estávamos seguros do frio. Ela dormia mas eu tinha o reflexo do céu nos olhos, não sabia que hora da madrugada era e nem gostaria. Vislumbrava com os olhos arregalados daquela particular insônia que trouxe minha mente para voar entre as nuvens, entre as estrelas. Me perguntava "Por quê as janelas estavam abertas? Por quê acordei com os olhos para o céu? Por quê esta noite é tão bela?...". Tinha dentro de mim o silêncio da madrugada trazendo consigo um quadro escuro feito pela própria realidade de um céu de julho. Tive vontade de ir lá fora e sentir os ventos passarem por mim, sentirem como eu os sinto, arrepia-los como me arrepiam. Desvencilhei cuidadosamente minhas pernas do abrigo e consegui levantar. Fui até minha mochila e peguei minha caixa, vesti a chinela e saí. Assim que abri a porta os ventos me receberam intensamente descontrolados, apertei os pés no chão e mantive-me firme, caminhei calmamente até o banquinho que tinha encostado na janela do lado de fora, próximo à minha cama, e sentei-me nele com cansaço, joguei meu corpo com meus ossos esperando que me recebesse confortavelmente duro como era, feito de uma madeira rústica e velha me fez dolorido os quadris. Tive alguns minutos ainda em silêncio ajustando minha mente à nova frequência de estar entre os ventos, na presença em corpo inteiro ao céu aberto e estrelado de uma noite daquela. Abri a caixinha com pêsame e sorrateiramente retirei de lá minha gaita em Mi..."


Você acorda fugido de um sonho
que te faz enxergar tudo escuro.
Parece pesadelo, mas é só o silêncio vestido de preto.
Ninguém e nenhum ruído. Solitário acompanhando.
Mas ao despertar deste sonho você tem um sorriso e uma música interestelar.
Sua primeira visão te trás o céu e uma sinfonia ao vivo de estrelas. Todas juntas brilhando pra você.
Um olhar atônito não descreveria sua reação. Ficou horas olhando sem sair da posição que despertou.
O olhar fixo no céu.
Lembrou-se só depois que tinha um diamante nos braços abraçado consigo, enrolado em si.
Pensou várias vezes antes de sair daquele abrigo para ver o céu. Mas aquele céu merecia, ela entenderia.
Conseguiu com sucesso e chegou preparado, como sempre desastrado, provocando dor desnecessária em si mesmo.
Quando começou a tocar aquela gaita me acordou abruptamente como se tivesse me cutucado no rim.
Senti meus braços vazios e o procurei em volta, a janela aberta me convidou a uma noite no exterior que eu já havia aberto mão faz tempo em troca do sono. Mas quando a vi com meus olhos eu entendi o que aquela gaita cantava.
Rompeu o silêncio da madrugada para ilustrá-la com uma digna canção.
As notas convidavam os astros à compartilhar o ritmo, clamava à Lua para chegar mais perto.
Nosso cachorro assistia deitado sentindo-se minimamente especial por ser a única plateia. Nosso amigo fiel.
Não imaginava o que seu coração sentia, esperava encontrar respostas quando voltasse pra cama.
Mas as horas foram passando e sua canção sobre aquela noite não terminava, estava ficando impaciente.
Decidi preparar café, logo amanheceria e teríamos fome. Uma hora seus pulmões parariam de assoprar para cessar fome.
O cheiro de café pareceu empolgá-lo mais, me deu bom dia com uma belíssima canção que foi do jazz ao blues, folk ao country em uma só noite. Amava ouvi-lo.

E quando parou, como se já fosse tempo, lá estava o Sol. Radiante e alegre explodindo no céu.
Já se foram as estrelas, já se foi a Lua... pelo menos enquanto for dia...
Levantou-se e caminhou para perto de mim...

- Bom dia, meu bem... _a abracei suavemente com preguiça.
Ela não me respondeu. Nem precisava.
Mesmo de costas...
...ele sentiu o meu sorriso...




Sallut
01.07.2014

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