Pesquisa !

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Passageiro.

...Até que pousei suavemente na ponta daquele prego,
senti minha pele espetar mas não doeu. Apenas pousei com o dedão do pé em cima do prego.
Era um mar de pregos fincados nas rochas firmemente. E eu passava por eles por leves saltos
apoiados pelo meu dedão calejado de coisas pontiagudas. Que perfuram.

Um ruído obscuro tentava atrapalhar a minha concentração,
algo tentava perfurar, como um prego, a minha mente que pensava
indo por caminhos perigosos tranquilamente, suavemente. Apoiado por um único dedo do pé. O dedão.
Meus pensamentos iam a um destino que talvez eu pudesse encontrar
depois do mar de pregos...

Enquanto aqui vou de salto em salto. Leve. Até onde meus dois dedos aguentarem.
Sei que o caminho vai além dos pregos e que eles são só a entrada deste Éden Infernal.
Mas o pomar que me espera vale a pena cada prego que venho pisando durante todos estes anos.
Todo mundo sabe que a entrada é a parte mais doce, mais suave. Por isso venho saltando, tranquilo.
Logo minha tranquilidade se transformará num arrepio de desespero contagiante.
Os céus não vão suportar as tempestades e Tornados
que estiverem à solta durante os próximos tempos.

Mas me sinto seguro agora, na entrada.
Nem me parece que logo poderei perder a vida. Não consigo sentir medo ou emoção alguma.
Apenas salto de prego em prego sabendo que uma hora ultrapassarei esta fase da minha vida.
No dia vinte e um do sete havia um gato branco no telhado arranhando o toldo
ele fazia um barulho suspeito, mas eu devia imaginar... um gato. Astuto e ardil.

...até que alcancei os céus,
senti meu corpo todo arrepiado, como se estivesse decolando de um grande avião pela primeira vez.
Os ventos passavam tão rápido que se eu abrisse a boca eles levavam meus dentes.
Me sentia livre nos céus.
Vestia uma capa azul com listras brancas
esta tinha muito significado. Era como um véu de estrela invadindo a constelação, vindo de longe...

Onde está você?
No meio deste universo que parece quebrado.
Algum dia espero encontrá-la passando pela rua vendo-a pela minha janela.
Onde está você? Enquanto todo mundo precisa da sua ajuda.
O que você diria se estivesse aqui no meu lugar, cercado de nada.
Você diria que sente muito por ter feito isso consigo mesma
e que acredita no perdão de alguém que possa perdoá-la
para finalmente sentir-se segura das sombras do universo.

Cachoeira constante. Morrendo perdido.
Como uma estrela procurando seu núcleo vital para recobrar sua função.
Você disse: Adeus. Até o dia em que tudo acaba.
Eu digo: Não tão tarde, meu bem. Vou olhá-la nos olhos mais uma vez.
Você tenta se esconder da verdade no meio do nosso silêncio
mas sabe que meu coração quebrado pulsa no seu peito
e você, sem forças para calá-lo, chora as mesmas lágrimas de saudade.

Mas pra onde me levaria se pudesse me encontrar agora, neste instante?
A levaria para qualquer lugar onde não haja silêncio entre nós
qualquer lugar onde eu possa ouvir o som da sua voz contando tudo o que aconteceu enquanto estava na sombra.
Eu sinto que esta parte de voar pelos céus também é só uma fase desta minha vida implacável.
Tenho muitos outros cenários e universos para conhecer.
Passei por acaso por esta galáxia e já me apaixonei por um alguém...
Não tem jeito. Uma essência incorrigivelmente romântica. Independente.




Sallut
21.07.2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário