...haviam coisas que eu não pude esquecer e nem acostumar a manter longe dos pensamentos, havia lembranças gravadas na minha mente que jamais seriam apagadas, e eu sabia disso. Não queria permitir que o meu orgulho me impedisse, mas também não queria permiti-lo ferir-me, despojar-me à derrota. Queria manter-me aparentemente intacto mesmo que por dentro somente podridão e solidão ao sofrimento.
Nos minutos mais silenciosos do meu dia me peguei sendo lentamente transportado, havia acabado de chegar na escola e estava um pouco cansado. Meus olhos estavam pesados e meus músculos estressados, meu espírito oscilava por liberdade.
Me sentei na cadeira e fiquei observando durante alguns instantes o mundo a minha volta, o som e a sensação que ele me transmitia. Senti um leve incomodo desconhecido dentro de mim enquanto fechava meus olhos lentamente permitindo que meu espírito escapasse lentamente para outro lugar longe dali. Meu primeiro pensamento foi Veneza...
"..e de repente abri os olhos e estava lá, olhei para o alto e vi os mais antigos e históricos prédios de Paris erguidos bem na minha frente, com a paisagem de uma noite sob Lua minguante e várias estrelas espalhadas pelo céu. Senti-me sendo carregado e quando notei estava dentro de uma balsa, como esperado, viajando lentamente pelos longos lagos da cidade.
Quando percebi que estava ali em pensamento senti algo explodir dentro do meu espírito, uma sensação de satisfação. Olhei para frente e pude enxergar dois olhos castanhos claros como mel ocultos no véu escuro daquela noite, tive vontade de sorrir mas não consigo notar minhas expressões.
Tentei tocá-la e quando vi minha mão estava acompanhada de uma rosa vermelha cheia de espinhos, foi assim que vi seu sorriso. O tempo que tive de me ajeitar e chegar mais perto foi o de abrir os olhos e ver a realidade..."
Estava sentado na cadeira de uma escola rodeado de adolescentes com pensamentos medíocres e imaturos, a doce realidade...
Tentei me encontrar diferente no meio deste Imagine, mas não. Somente o incessante anseio pelo amor.
A escrita vem como sempre me servir refúgio, me oferecer consolo. Mas o fardo que carrego dos meus próprios erros é tudo o que preciso para fazer da escrita a lâmina que afunda em meu coração.
Queria, sim, uma Imagine doce e sincero como estar em Veneza sendo levado pelas águas repletas de história ouvindo alguma clássica sinfonia ao vivo, enquanto só por gozo observo o que há de mais belo no mundo corpóreo.
Mas, sinceramente, eu já não sei mais como fugir destes meus insanos pensamentos!
Escrevê-los me torna um triste poeta,
pensa-los me faz um triste menino,
senti-los me faz simples espírito errante... que se dispõe cada dia
se apaixonar.
Sallut
14.05.2013
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