Caro diário...
De todas as cavernas e buracos que já estive, talvez esteja no mais fundo de todos eles. Agora.
Não vim contar o que me trouxe aqui... apenas... desabafar.
Desta vez apareço com camisa social cinza e listras brancas. A gravata é preta com detalhes prateados.
Uma calça de tamanho certo e sapato bico fino. Não cortei meu cabelo e exalo óleo de alecrim.
Minha expressão está centrada e decidida.
Minha última experiência fora tão devastadora, agora nasce a nova versão de mim.
Ainda mais sério, sem as flores nem motivos pra tanto...
Acontece que, se estou aqui, foi porque me permiti. Entregar, amar e acreditar em alguém...
Estou mergulhando cada vez mais pro fundo em mim mesmo e, quanto mais fundo...
maior é a grande tristeza.... que só aumenta a cada experiência, parecendo me conduzir mais baixo...
Estão abandonados sonhos e falsas esperanças. Também me sinto frio agora.
Endureça minhas cascas e enrijeça minha armadura, óh, mergulho pro fundo...
Torne-me também, na medida do necessário, outra criatura insensível e sem coração...
Verei o eclipse enegrecer o verão, tornando tudo um vale de memórias esquecidas.
E, se algo valer a pena durante este vale sombrio que estou adentrando...
que eu tenha olhar e coração, ainda, para perceber...
Sallut
12.03.2025