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quarta-feira, 12 de março de 2025

Primeiro Uivo do Lobo Insensível

Caro diário...

De todas as cavernas e buracos que já estive, talvez esteja no mais fundo de todos eles. Agora.


Não vim contar o que me trouxe aqui... apenas... desabafar.

Desta vez apareço com camisa social cinza e listras brancas. A gravata é preta com detalhes prateados.

Uma calça de tamanho certo e sapato bico fino. Não cortei meu cabelo e exalo óleo de alecrim.

Minha expressão está centrada e decidida.


Minha última experiência fora tão devastadora, agora nasce a nova versão de mim.

Ainda mais sério, sem as flores nem motivos pra tanto...

Acontece que, se estou aqui, foi porque me permiti. Entregar, amar e acreditar em alguém...


Estou mergulhando cada vez mais pro fundo em mim mesmo e, quanto mais fundo...

maior é a grande tristeza.... que só aumenta a cada experiência, parecendo me conduzir mais baixo...

Estão abandonados sonhos e falsas esperanças. Também me sinto frio agora.


Endureça minhas cascas e enrijeça minha armadura, óh, mergulho pro fundo...

Torne-me também, na medida do necessário, outra criatura insensível e sem coração...


Verei o eclipse enegrecer o verão, tornando tudo um vale de memórias esquecidas.

E, se algo valer a pena durante este vale sombrio que estou adentrando...

que eu tenha olhar e coração, ainda, para perceber...





Sallut

12.03.2025

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Crisântemo Rubi Dourado

(...) desabrocha o crisântemo do rubi dourado,

uma nota de cada vez,

perfumando tudo à sua volta...

No seu centro: a geometria se abrindo em espiral, miúdo, enquanto pétalas de sentimento

derramam-se em seu entorno, desaguando cores, sabores, profundidade e alturas elevadas.

Não há época certa, apenas leva tempo. Muitos caminhos em si mesmo,

todos levando à beleza e perfeição.

É orquestra de uma nota só, da raiz até a flora.


A serviço da humanidade entrega sua beleza, aprendendo a ser outro grão do jardim de harmonias.

Entre Sol e Lua, chuva e estrelas... encontra seu silêncio, sua dança, cantoria e firmeza.

Em seu silêncio está um oceano de misericórdia.

Em sua dança está a inspiração da melodia.

Em sua cantoria estão as coordenadas para o Sol; ensinando o bom, o belo e o justo.

Revela toda sua beleza o Crisântemo do Rubi Dourado quando desabrocha.

Mestra Nada conduz seu desabrochar.

Iluminado pelo som das divindades,

é a manifestação da sexta-feira reluzente. Entregando, através do serviço,

toda compaixão à dor da humanidade. A canção sagrada do crisântemo dourado

manifesta o toque do Sino da Paz em meio à tempestade, sinalizando o Farol do Amor a quem estiver perdido, sendo Rocha Firme a quem precisar de apoio, trazendo a Loba como madre da casa.

De tempos em tempos,
desabrocha um rubi dourado.
Depois de experimentar o deserto, a secura, as cascas grosseiras do ressentimento e da exaustão
Torna-se, em si mesmo, o próprio oásis da salvação, trazendo cura, saúde e fé a quem quiser buscar o caminho da retidão.
Belo em descascar da lama tons de riqueza.
A verdadeira carruagem de ouro arrastada por cavalos alados de fogo, é adornada com flores do crisântemo vermelho e dourado. Quem conduz esta embarcação é o Príncipe do Céu. Sua trombeta anuncia sua chegada.




Sallut
21.08.2024

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Dualidade em Equilíbrio

meu sorriso é de canto, minha expressão leve...
apesar de tão carregada, Dos sentimentos, dos eventos...
Voltei e, mais uma vez, derrotado. Por mim mesmo, no entanto.
Assombrado pelos velhos obscuros que me habitam. A cada ano os conheço melhor.
Não vou contar sobre o que entreguei, sobre como me senti, nem sobre como poderia ter sido diferente.
Vou contar que houve um pôr do sol inesquecível.
Que, embora adeus, houveram risadas e olhares.
Em algum momento do tempo fomos verdadeiros amantes.

Voltei para dizer que estou feliz por estar vivo.
Por cada uma destas lindas experiências que me foram confiadas, eu sou grato. Pelo Amor presente em minha vida. Pelo abrigo da chuva e do frio. Pelo alimento, a água e o ar que nutre este corpo. Pela oportunidade de navegar e sentir o fluído transpassar.
Eu com certeza sou outra pessoa depois da Princesa do Mar Bambu.
Agora entendo melhor o Sol e a Lua.




Sallut
23.10.2023

sábado, 11 de fevereiro de 2023

A Princesa do Mar Bambu

 ...minha velha sandália se aposentou...

O velho cordão de angelim vermelho, também...

Renovei quase todas minhas vestes. As células do meu corpo, também...

Meu coração... desfez sua antiga couraça. Estou novamente entregue a um novo amor.

Algo em mim não mudou. Continuo tocando minhas flautas. E, veja bem... ainda escrevo no meu antigo diário. Alguns dos meus planos de curto prazo se modificaram um pouco. Minha viagem às Cordilheiras se adiou. Mas, não conto isto com tristeza. Pelo contrário. Meu coração está cintilando novamente.

Foi a Princesa do Mar que cruzou meu caminho.

Meu jeito romântico incorrigível não hesitou em mudar tudo, outra vez...

Algo parece diferente. Eu mudei. Tenho um novo repertório.

As coisas continuam no seu lugar de sempre. Mas as vejo de outro ângulo agora.

Estou tendo a oportunidade de ministrar a flauta por algum tempo, viver disso de uma maneira que ainda não conheço. Estou animado. Cantando, dançando e sorrindo. Com vestes em tom verde-claro, bege e marrom. É novo para mim, mas estou gostando.

Querido diário, não se esqueça das minhas lembranças mais doces. Sei que você está abarrotado de sentimentos densos e tristes. Mas isto não é tudo.

Afaste os dementadores com o verão de 2023.



Sallut

11.02.2023

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Caminho entre Dunas de Silêncio

...por onde andei, tudo que me aconteceu...
Estou Vivo. Sou grato.
Mirando o Sol com olhos de outros rumos.
Com todo sentimento
saúdo mais um dia.

Eu caminho e cruzo a cidade, saindo do bairro rumo ao centro. Tomo o transporte ouvindo o Raga Yaman. Ele me acalma e coloca meu coração bem tranquilo. Embora meus pensamentos revoem como uma tempestade, sigo firme numa decisão que só o coração sabe os motivos.

Eu vivo esta história, mas não conheço seu destino. A vida é um mistério.
Agora tudo o que eu quero é fazer minha última peregrinação. A Cordilheira.
Quero fincar minhas raízes, construir minha casa. Começar a plantar todas as sementes que reuni.
As viagens não mais me apetecem. Nenhuma expectativa de conhecer todo o mundo.
Tudo o que vi até aqui foi Divino Maravilhoso.

Querido diário. Desde que comecei a escrever e relatar meus mais íntimos pensamentos aqui, muita coisa me aconteceu, me transformei em vários personagens e a vida continua me moldando. Apesar de ter diminuído a frequência com que lhe visito, mantenho a escrita como a origem de toda a minha expressão. Tenho meus diários de bordo.

apareço vestindo uma calça jeans branca, com o velho cinto coral,
a camisa de krishna tocando seu bansur. O colar de cristal por dentro da veste.
O cabelo black. Um pouco mais magro. A velha sandália mais surrada, mais usada.
A mochila de tecido que guarda água, blusa e flauta. O mesmo simples tão simples quanto sempre.

Me olhe, veja dentro de meus olhos. Ouça minha voz e pense nas palavras que lhe digo. Estou te olhando, tentando ver dentro de você. Buscando ouvir sua voz para entender o que me trazem. Eu sou o outro você.




Sallut
12/09/2022