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domingo, 22 de agosto de 2010

Eu te amo

As nuvens estavam tão claras e o céu tão azul e lindo. Ao meu lado, estava ela, minha melhor amiga, minha companheira e o que me dá forças para continuar.
Olhamos para o céu toda as tardes em dias quentes, conseguimos descansar por alguns instantes e nos aventurar dando formas as nuvens que navegam pelo céu. As vezes, olho pra ela com um lindo sorriso e espero que ela me olhe para sorrir também, poucas vezes acontece, ela me olha de canto, vê se estou sorrindo e quando percebe, fecha os olhos e vira-se pra mim de olhos fechados fingindo estar dormindo. As coisas acontecem desde que nós éramos pequenos, eu assumi que gostava dela quando ainda tínhamos 8 anos de idade. Lembro-me tão bem, tão claro.
Estávamos no mesmo campo, porém, era Primavera e ao invés do gramado o campo estava totalmente coberto por flores de todas as cores e odores.
Eu pensei rápido e não medi conseqüencia na hora, arrastei minha mão para o lado sem olhar e puxei uma flor, olhando pra ela eu abri novamente um sorriso e ela fez como de costume, fechou os olhos e fingiu que estava dormindo. Mas mesmo assim, notava que eu ainda observava ela com um belo sorriso no rosto esperando que ela abra os olhos. Ela insiste mas abre os olhos devagar. Eu estou com uma rosa vermelha em uma das mãos, peguei sem cuidado e acabei por ferir o meu dedo em um dos seus espinhos, mas ignorei a dor e continuei sorrindo olhando para o fundo dos olhos dela com a rosa na mão. Ela me observou, apanhou a rosa da minha mão e, ao ver o meu dedo sangrando o pois na boca. Eu não consegui raciocinar e minha barriga estava dando um frio que tremia o meu corpo inteiro. Meu sorriso sumiu por completo e no lugar dele veio lágrimas, mas não de tristeza, de forma alguma. Vieram lágrimas de felicidade somada a ansiedade, lágrimas que completaram aquele momento.
Quando ela percebeu, limpou o meu rosto e me deu um beijo. Éramos pequenos e não sabíamos nada do que estávamos fazendo. Mas eu senti, senti que ela seria aquela que me traria conforto, que iria dizer ao meu coração para se acalmar e ele obedecesse.
Depois daquele dia, nunca mais tive coragem de tomar a mesma atitude, não sei por que. Nunca disse pra ela que eu a amava com todas as palavras, nunca fiz isso e me arrependo amargamente.
Passamos a nossa vida inteira juntos, um ao lado do outro. Presenciando a felicidade, a tristeza, o luxo somada a nobreza de todos os lugares e tipos. Passamos por sufoco e estamos juntos até hoje.
Mas não sei por que, sempre caminhamos como amigos, é uma coisa que me incomoda principalmente nesse instante.
De tudo o que já passamos juntos eu consegui dizer "adeus" ao nosso amor e tentar me apaixonar por outra pessoa, me casei, tive filhos e uma casa. Senti que ela ficava triste a cada dia que passava e me via junto a minha mulher e filhos, sentia a sua tristeza que me deixava sem sono todas as noites.
Alguns anos depois de casado finalmente ela adoeceu por conta de toda aquela tristeza. Levei ela ao médico, ao psicólogo e em nenhum lugar tive respostas positivas. Sempre diziam que era inevitável a sua morte.
Eu entrei em choque e não soube o que fazer, finalmente, pensei claramente e me arrisquei, botei minha cabeça no lugar e admiti a culpa. Afinal, era a minha culpa, eu a fiz ficar assim, eu não devia ter escondido o meu amor que ainda sinto, durmo com ele todos os dias e sei, sei que foi a ausência da coragem que está fazendo ela ficar assim. Tomei a atitude e finalmente tive coragem.
Fui até um centro espírita e vendi a minha alma em troca da vida dela, da saúde dela.
Tudo ocorreu como previsto, exceto por uma coisa. Em troca da saúde dela eu nunca mais podia me envolver com nenhuma outra pessoa, eu perdi totalmente os meus sentimentos pois vendi a minha alma. Senti um amargo sem tamanho. Mas tudo bem, não ligo. Agora ela está bem e é o que importa..
Anos depois ela adoece novamente, eu não pude dar a ele o amor que ela precisava, era uma doença crônica e somente o meu amor era a cura.
Nada estava dando certo, voltei ao médico e nada, voltei ao psicólogo e nada, voltei ao centro e nada.. nada podia salvá-la dessa vez, somente o amor que eu não podia dar ..
Finalmente, no hospital eram os seus últimos minutos de vida. O médico me chama na outra sala e com uma cara triste, eu vou correndo para o quarto dela e a encontro lá, deitada totalmente destruída, sem vida, sem nada.
Eu pego na mão dela e não consigo conter, choro novamente. Como na última vez, no campo, só que dessa vez era ela quem sangrava e eu não podia fazer nada a respeito, eu não podia chupar o ferimento e fazer parar de sangrar, eu só podia observar e vê-la indo embora, na minha frente..
Eu choro e fico vários minutos chorando e ela apenas me observando, olhando no fundo dos meus olhos avermelhados.. Ela limpa o meu rosto das lágrimas, como fez antes. O meu coração e o meu corpo sente o mesmo calafrio que me faz tremer. Ela pede para eu me aproximar e, quando eu me aproximo ela me beija, era o seu último minuto de vida e o meu orgulho acabou com a minha vida e, literalmente, acabou com a vida dela.
Depois de ela me beijar, eu deito-me sobre seu peito e volto a chorar, sentindo o seu coração fraco e frio, ela faz carinho na minha cabeça e passa seus dedos entre o meu cabelo e aquilo me dá um conforto sem tamanho, paro de chorar e finalmente ouço o seu coração parar de bater. Entro e choque e levanto-me rapido e ainda a encontro de olhos abertos.. a abraço e um suspiro volta-se no meu ouvido, ouvi e ouço até hoje esse sonho que ecoa na minha mente. O que eu não tive coragem de falar ela disse pela primeira vez em todos esses anos, ela finalmente, me fez parar de chorar chupando o meu ferimento e me fazendo parar de sangrar, ela fez o que eu nunca fiz..
Ela disse:

"Eu te amo"


Sallut
22.08.2010

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