Nada me importava. Eu estava só e ela não se importava mais comigo.. não mais.
O Inverno estava tão denso quanto areia. A neve condenava a cidade e a maioria das estradas já estavam cobertas, estava frio.. muito frio. Como em todas as noites, eu estava sentado na cama escrevendo, as vezes poemas e as vezes histórias, como esta. Escrevia poemas para uma bela e linda menina. De cabelos loiros e olhos verdes bem escurinhos mas, hipnotizadores.
Lia em voz alta todas as noites e as vezes, me surpreendia com o resultado da minha solidão, do meu sofrimento.
Eram versos negros e cheio de tristeza, de todos aqueles dos quais criei feliz pensando nela, cobrem-se e se perdem quando comparados aos tristes e dolorosos.
Todas as noites na mesma hora eu me dava ao trabalho de pegar meu lápis e papel, sentar-me em minha cama, olhar durante alguns minutos pra lua e fingir que ela respondia as minhas perguntas no meu pensamento...
Todas as noites eu me dava ao trabalho de estar sempre na hora certa pois, eu tinha alguém que me observava pela fresta da porta e aquilo me deixava tão feliz quando eu escrevia..
As vezes, tentava passar uma imagem boa e de intelectual lendo em voz alta e tentando não gaguejar.. Era a minha irmã mais nova, ela tinha 8 aninhos de idade e me inspirava todas as noites.
Sentava-se e encostava as costas na porta do meu quarto e colocava a orelha bem perto da fresta para ouvir quando eu lia em voz alta, para ela. Ela com certeza não sabia que eu sabia que ela estava lá, sempre, todas as noites. Ela, é a unica testemunha do meu sofrimento sem nem mesmo saber.
Eu escrevia todas as noites sem exceção... olhava alguns minutos para a lua e depois recuava o olhar para o meu caderno e o via em branco, nesse momento, eu ouvia minha irmã coçando os olhos com força para manter-se acordada e ouvir meu poema da noite mas, algumas vezes eu não conseguia escrever nada bom e a desanimava.
Desde que contei que a amo ela não me trata igual a antes e isso me incomoda. Eu sinto que deveria largar de mão e não correr atrás, nunca mais dizer que sinto algo por ela e tentar não dar nenhuma atenção pra ela mas, essa coisa que eu sinto é muito mais poderosa do que eu. Eu a vejo ali, disponível para me ouvir e quando eu tomo coragem e finalmente falo com ela sou ignorado, simplesmente ignorado.
As vezes me sinto enjoado e entediado na cama, sem sono, me revirando e suando, as vezes choro por não conseguir dormir. Quando fico quieto por alguns minutos minhas pernas formigam e o meu estômago dói, minha cabeça força as lágrimas a saírem e eu finjo que não sinto, que não choro e que tudo está muito bem.
Mas só eu e o meu coração sabemos do que passamos todas as noites lembrando daquele sorriso lindo dela, daqueles olhos lindos e daquele rosto perfeito e desenhado com carinho. Aquele abraço forte e o cheiro dela não saem da minha cabeça, todas as noites me lembro.. todas as noites sinto dor.
Mas.. todas as vezes que vejo ela eu a ignoro.. todas as poucas vezes que vejo ela escondo tudo o que eu sinto e tudo o que eu quero falar eu acabo não falando.
Todas as vezes que eu vejo ela meu coração explode e se reconstitui aos poucos resgatando cada migalha do que restou.
E hoje que tomei coragem, hoje que tudo acabou pra mim eu percebi que a minha vida foi jogada no lixo e eu passei todo esse tempo matando à mim mesmo..
Aí a minha lição foi dada e eu fui condenado a viver infeliz pro resto da minha vida..
Porque quando os olhos dizem que sim, as atitudes já provaram o contrário.
Sallut
29.09.2010