Eu não sei direito o que me incomoda, mas sei que algo lá dentro de mim grita pedindo por favor para que algo pare imediatamente. Como se fosse um poço com um fundo que ninguém conhece, só eu, e mesmo eu, nunca cheguei lá. Sempre que fico bem conheço um topo mais fundo, ou um fundo mais propício ao meu sofrimento. O que importa é que eu sempre supero, o silêncio me ajuda...
Eu já aprendi a me livrar de muitas coisas, pessoas, modos, pensamentos... depois que acordava me dava conta que algumas coisas já não faziam mais parte da minha vida, e isso nunca foi algo bom de pensar. Eu gosto das minhas companhias mas momentaneamente, não sei, com certeza o problema sou eu. Me lembro de deixar aqui no diário algo sobre estradas e as pessoas que encontro nela, é meio vago mas me recordo. Eu estou perdido nos meus próprios pensamentos agora, não sei o que colocar para fora, não sei o que deixar lá dentro, não sei o que sentir, o que enterrar. Estou perdido.
Olha onde estou:
"Há uma montanha e ao redor dela não há nada. Como um refúgio. Todo o mundo que havia construído sumiu, simplesmente desapareceu. Um buraco enorme abriu-se dentro do meu peito, algo que eu não consigo calcular as dimensões ou os estragos. Não tenho o meu coração para saber. Mas sinto que muitas coisas deixaram de ser, muitos pensamentos se perderam caindo no vácuo da existência dentro de mim, mas não consigo saber o que porque não tenho o coração...
Eu queria contar os problemas para aquele alguém que não está aqui, queria me apoiar num abraço quente e dormir naquele beijo de maravilhas.
Há uma montanha e ao redor dela não há nada. É um pico alto, vejo nuvens e o céu está azul-celeste como o dia indo embora, dando horas para a escuridão da noite. Lembro-me de alguém quando penso nisso. As estrelas eu podia enxergar claramente, mas eram poucas... havia duas ou três no céu mas brilhavam muito, como se um sorriso bem longe de mim fosse especialmente verdadeiro e não fosse se apagar tão cedo.
Há uma montanha e ao redor dela não há nada. O ar que eu respiro é vazio e gelado, escorre pelos meu pulmão e o sinto congelar todos os ossos das minhas costelas, um por um, e para no estômago. Atrás de mim há um penhasco, onde nasce ou onde morre a tal montanha. Eu não sei o que tem lá no fundo, ou no chão, estou no alto. Não faço a mínima ideia do que encontrar lá, viro minha direção oposta e olho para baixo e sinto um arrepio na garganta, a minha boca seca e meus olhos pesam, minha cabeça começa a latejar uma dor bem fraca mas percebível.
Há uma montanha e o redor dela não há nada. Foi o último lugar que restou dentro de mim, dentro de todo o paraíso, as cachoeiras, os bosques, as cidades, A Cabana, os Lagos... tudo desapareceu, restou uma montanha solitária.
Meu mundo não tem mais cor, sentido, lugares, sensações. Meu mundo já não existe mais e eu acho que é isso que me deixa vazio, talvez o próximo passo seja construir tudo novamente, não é? Cada sono em cada noite terei o trabalho de sorrir ao imaginar cada lembrança, não as trarei de volta, farei outras novas mais felizes, mais fortes. Eu estou com medo do que vou me transformar nesse processo... normalmente quando tenho que dar novos passos eu me transformo, viro algo ou alguém que eu não era. A filosofia do meu pensamento, o calor do meu coração, tudo desaparece.
Há uma montanha e ao redor dela não há nada.
O que você acha que aconteceu?"
Sallut
23.01.2011
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