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terça-feira, 5 de junho de 2012

O amor.

 "Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo. Brigavam sempre. E se desafiavam todos os dias. Mas, apesar das diferenças, tinham algo importante em comum: eram loucos um pelo outro." Andreza Pereira


"...ela agachou logo quando viu a carta sob uma pedra, estava com um vestido curto e por volta véus brancos que escondiam braços e sorrisos tímidos que só são ouvidos se escutados com atenção e interesse. Era uma princesa. Mas por de trás daquele olhar ingênuo, doce e jovem, havia também um Tigre branco com profundos olhos azuis querendo se libertar de uma jaula de aço. Como o meu amor que plantado dentro dela e jamais esquecido, disfarçado, mas não esquecido.
Leu com tristeza palavra por palavra, sabendo que a sensação que surgira a seguir iria completar o momento com a importância que ele tivera, pois já não existíamos mais...
Aquela montanha esquecida que a nobre Princesa escalou para encontrar com seu amor já não era mais o lar daquele Poeta, na verdade o espírito definhara até morrer de saudade. Aí sobrou este aqui, eu..."

- Queria poder entender mais você, esse seu jeito de pensar é muito confuso. _disse com indignação no tom de voz, não parecia contente.
- Não parece confuso para mim, na verdade quando te explico tudo fica simples, você sabe... _ a confortei.
- É, pode ser... mas eu gostaria de te decifrar por meus esforços...
- Se houver interesse então há possibilidade. _ Sorri. Ela sorriu.
Me levantei e vi toda a bagunça da nossa briga, havia no sofá uma caixa de lembranças de 10 anos atrás que foram jogadas na minha cara na noite passada. Erros foram cometidos, pois é, eu sei...
Ela levantou atrás de mim e sorriu apoiando-se no meu ombro, me deu um beijo no rosto e saiu.
- Comece pela sala...
- Prefiro a cozinha. _nos olhamos fixamente.
- Deixa a cozinha comigo, aí eu aproveito e já começo a preparar algo pra com... _a interrompi.
- A cozinha é minha. _ já partindo pelo corredor.
Ela sorriu. Meu pensamento a seguir já fora esperado, ela era um diamante que lapidei de tanto que me apaixonei. Já sabia...
- Te odeio! _ arremessou do corredor um carregador de celular que me acertou em cheio no supercílio.
Logo a seguir veio mansa arrependida com carinhos e beijos, era assim...
- Eu te amo. _a olhei nos olhos e sorri.
Ela sorriu.
- Aproveita que machucou e vai arrumar a sala, deixa a cozinha comigo... _me guiando para fora comprometendo minha inteligência.
- Não! _me recompus.
- Rrghh! _saiu bufando e batendo pernas até o quarto.
Alguns minutos no silêncio se passaram, estávamos realmente ocupados arrumando toda aquela bagunça. A verdade é que passamos anos para arrumar sempre todas as bagunças, pois brigávamos sempre. Mas não era o tipo de briga que diz-se violentas e que causam rupturas. Note.
Sabíamos do nosso amor e do valor que tinha aquilo que despertou em nós dois, não era um conto de fadas, éramos nós...
Só 10 anos depois...

O Sol já havia nascido quando despertei sozinho, abri os olhos lentamente como de costume e me dei conta num abraço daqueles que te dão um ótimo humor pela manhã. O dia estava um tanto frio e o aconchego dentro do confortável é indispensável e incrivelmente prazeroso. A preguiça de quem não tinha compromissos naquele dia ia render uma boa disposição, como eu...

- Bom dia... _ouvi sua voz rouca, baixa e silenciosa, mas contente em me ver ali, assim como eu.
A olhei e ela se virou, e então fiquei observando...
- O que foi? _ enxugou os olhos daquele jeito que as remelas e o cabelo bagunçado a fizessem parecer fofa de mais para existir. 
Que outra opção? A beijei... e senti seu sorriso abrir meio ao beijo, feliz.
- É só você que consegue dar o melhor bom dia sem palavras?
- Tudo bem, vamos... tenho muito a fazer hoje. _ri já acordando me sentindo engraçado. Ela ficou brava.
Virou-se para o lado, puxou as cobertas e saiu para o banheiro.
- Olha a pirraça...
Então eu notei enquanto a via se aprontar para o seu dia que era aquela que a quem devia um futuro até as cinzas, e o cumpri...

Só 20 anos depois...

Era noite dessa vez, e a Lua parecia contente em nos ver presente, juro. Estávamos em Veneza, como naquele sonho, em cadeiras na varanda observando o céu, as estrelas, a Lua...
Havia uma mesinha entre nós onde estava o meu cachimbo, ao lado seus enrolados estávamos bem... e em silêncio, quando de repente nossos olhares se cruzavam e não dizíamos nada, apenas nos olhávamos. E sabíamos dentro do nosso pensamento, tínhamos a certeza absoluta do que o outro estava sentindo. Éramos um só naquele momento da vida, e estávamos prestes a partir pra depois das cinzas...

Eu podia sentir o meu corpo fraco e já sabia que era aquele o momento, então foi da forma mais tranquila que eu pude imaginar. Vivi todos os dias sem pausas pois o tempo não parou nem um único instante. Tínhamos 87 e 88 anos, vivemos bem não foi, meu bem? A morte foi tão doce, aliviou a ardência que era permanecer de olhos abertos, ou de pensamento constante. Foi como tirar uma pluma de dentro de uma travesseiro, e então me senti vazio... mas, assim que me senti indo realmente embora tive medo, a sensação foi esquisita e não me senti seguro e foi nessa hora, minha primeira reação foi um espasmo e pude sentir a mão dela firme laçada à minha. Estávamos juntos naquele momento sentindo o mesmo, como antes... não pude olhá-la nos olhos, infelizmente, mas já sabia. Eu já sabia...




Sallut
05.06.2012

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