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terça-feira, 19 de março de 2013

...eu havia acabado de chegar em casa, fora uma longa viagem com pensamentos pesados e entristecidos. A ideia ainda não diluíra no meu subconsciente e uma viagem de 18 horas fora útil apenas para me fazer refletir.
Refleti sobre o mundo, a minha vida e as coisas como iam caminhando, as pessoas que eu conhecia e quais delas eram importantes para mim, quantos sorrisos verdadeiros eu esboçava no dia ou qual deles era sincero. Pensei no meu coração e em como andava seus batimentos, se estaria em conforto e seguro aonde estivesse nesse frio da noite de segunda-feira dezenove.
Coloquei a água para esquentar no fogo e me apoiei na parede esperando até que chegasse ao estado de ebulição, meu olhar perdido e silencioso pousou no chão e ficou focado no nulo, naquele silêncio mental que incomoda a nossa sensibilidade às coisas e quando notamos já se passaram alguns minutos. A água já estava fervendo. Apaguei o fogo e derramei a água quente sob o pó de café, o cheiro que subiu foi atraente.
Caminhei até a janela e a abri, uma forte corrente de vento entrou assim que teve chance. Meu olhar se encontrou com o horizonte e nele percebi que sentia um vazio dentro de mim que não podia ser preenchido por qualquer coisa, como o céu que durante as noites suplicava pelo brilhar da Lua e não somente das estrelas. Debrucei-me sobre a janela e lentamente apoiei meu queixo sobre minha mão, minha expressão imóvel permaneceu nos meus pensamentos silenciosos, e fiquei assim durante vários minutos. Pensando no silêncio e em como as coisas pareciam em paz na solidão.
Mas dentro de mim sentia aquele vazio, a ânsia de que algo foi retirado e que agora tudo está incompleto, defasado. Uma mente brilhante que perdera sua inspiração.
Foi quando algo roubou nitidamente minha atenção, uma estrela lá no céu, única e solitária, brilhava como que para mim, ofuscava-se chamando minha atenção total para ela, então desviei meu olhar e observei aquela estrela. Parecia-se comigo. Estava só no céu. Num céu sem Lua, incompleto, defasado. Senti vontade de sorrir, mas meu rosto continuo imóvel, meu olhar continuou fixo na estrela e meus pensamentos permaneciam silenciosos. Meus lábios talvez petrificados pela tristeza, já não podiam sorrir com tanta leveza e facilidade quanto antes. Meu olhar, que possuía um brilho negro cheio de vida, já não demonstra tanta ansiedade para com a vida. E minha mente, que um dia jazia poeta, já não se inspirava em nada além da tristeza. Além do vazio e do silencioso. O inexpressivo.
O café estava pronto e fazia uma noite muito bela, apesar de não ter Lua fazia frio, eu amo frio. Deixei a janela aberta e voltei para os braços da minha solidão como um cão de volta ao lar, deitei-me na minha cama espaçosa e aqueci somente ao meu lado, enquanto observava o tempo no mundo corpóreo passar, sentia a ânsia de morte dentro do meu espírito. Respirava profunda e lentamente procurando o sono que me levasse a um estado de desligamento por algum tempo.
Olhei para o teto e fixei meu olhar num único ponto e não me mexi, permaneci imóvel até que o sono me alcançou. Minha mão direita estava apoiada em cima do meu peito, pensava no meu coração enquanto esperava o sono, ou a morte. Sentia saudade de seus batimentos calorosos e da sensação que me provocavam de bem estar no corpo, na alma.
Foi assim que adormeci naquela noite, num cinza sem definição, num silêncio sem exatidão, com um vazio sem extensão, e uma saudade contida somente na imaginação.
"Que loucura... esse garoto tem um prego a menos na cabeça"





Sallut
19.03.2013

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