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terça-feira, 5 de março de 2013

Um abrigo no Teatro.

...acordei quando cheguei lá, lembro-me de procurar um lugar pra ficar e, com alguma sorte, encontrei um Teatro onde pude me abrigar. Havia um palco e muitas cadeiras todas vazias, o lugar era coberto mas estava abandonado e corria muitas correntes de ar pelos corredores. Haviam cortinas desgastadas pelo tempo e empoeiradas pelo abandono, mas intactas e perfeitas.
O teto era planejado para que o som pudesse chegar até a platéia com mais facilidade, que se limitava no melhor dia da semana a 100 visitantes.
Lembro-me de que quando acordei naquele dia eu estava determinado a fazer minha última viagem até chegar no meu destino, mas parece que não pude fazê-lo sem pausa. Comigo tinha apenas meus cabelos crescidos e um pequeno violino que me trazia paz nos momentos mais fúnebres da tristeza. Não possuía fogo, mas unicamente solitária estava uma vela a alguns metros no palco, olhava fixamente para ela projetando o fogo e seu calor reais na minha mente para que, quem sabe, tornar a física possível. Estou fraco.
Estava com fome, com frio, com sono e sem um coração. Tinha apenas meu silencioso pensamento e meu minucioso toque nas cordas de um violino experiente. Minhas asas estavam cansadas e um corvo não pode voar tanto. Decidi naquele instante me sentar e encontrar a resposta de algum pensar dentro da minha mente, procurei um Imagine mas não pude notar nada, apenas meu pensamento.
Achei ter ouvido algo mas logo deduzi ser o vento, fora minha suspeita de companhia nos últimos anos. A Sombra do Vento.
A noite passou lentamente segundo por segundo enquanto eu contava com meus toques observadores cada canto daquele Teatro, e imaginava cada peça ou apresentação musical que tivera ocorrido ali, onde eu estava posto em lágrimas secas suprimidas pelo próprio pensar e existir naquela noite. Senti o vento soprar e balançar minhas penas que rugiam um macio balançar sem se deixar levar. Minha pele arrepia e aquela sensação do coração sendo atingido por algo, por um relâmpago... uma das minhas asas reage e se abre lentamente, tento resistir e insisto no sono. O sono é impossível no inexistente do silencioso solitário. Com a presença de uma vela, um Teatro e um violino, este corvo compôs uma canção que não se deu a cantar para ninguém, nem a si mesmo...
Levantou a cabeça lentamente com os olhos ainda fechados e com um sorriso escondido afável e gentil apanhou o violino e o posicionou para manuseá-lo, o som começou a escorregar pelas cordas até alcançarem um grave no espaço que resultou em suas próprias emoções traduzidas por um instrumento que emitia sons. Seus pensamentos cantarolavam uma canção que seguia tênue pensativa em uma senhorita que jaz em memórias esquecidas, este corvo tinha um coração abatido em mãos mas não quis submeter-se à tanto... por uma canção que dizia...


"Num dia amanheci disposto
decidido a viajar e voar
Alcançar continentes longínquos
explorar muito além dos mares

Me encontrar com vários sorrisos
conhecer de muitos pensares
Descobrir muitas cores, olhares
Me esbarrar com alguma maldade

Mas no fim do dia vi que não fiz nada
Apenas voei e pousei em círculos
Esperei por um bom tempo
Sem coragem de enfrentar o difícil

Anoitece mais uma noite, e a Lua
infinitamente sábia brilha o céu
Faz o céu, e sem Lua
não existe noite, nem o inspirar

Só a tristeza num versinho feito
Que no final tem consigo um selo
só pra mais amada, um sorriso e um beijo."




Sallut
05.03.2013

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