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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Minha cura, minha morte, meu amor.

Foram três toques na porta e eu ouvi passos vindo na minha direção, eram curtos e tímidos, pareciam querer ocultar-se de mim. Permaneci quieto, calado, sem fazer um único ruído, ali fiquei durante horas esperando para que você voltasse, esperando... para você me dizer a verdade...

Aprendi a ler tarde e aproveitei bastante essa habilidade. Cedo, provei dos livros mais longos das histórias mais encantadoras do mundo, pude apreciar a arte de um verdadeiro artista, bastou-me ter paciência e curiosidade.
Ela nunca me entendeu, nunca entendeu a minha fome por essas coisas e sempre que eu tentava explicar como funcionava para mim ela balançava a cabeça e dizia que não valia a pena perder um precioso tempo com esse tipo de coisa.. não.
Hoje estou morrendo e escrevi para ti este poema. Você sempre menosprezou esse meu "gostar" e hoje eu farei com que você prove uma única vez o que eu sei fazer de verdade.
Você está lá fora esperando por notícias minhas do médico, você já sabe o que vai acontecer, sabe que vou embora e que quero me esconder de você para não ter que encarar sozinho o fato que eu te amo e que isso vai doer muito, muito.
No poema em que escrevi eu contei a história de duas crianças que se amavam, como nós. Cresceram juntos e com um laço de amizade inquebrável seguiram uma trilha longa até seus caminhos dividirem. É claro, você sempre foi mais esperta do que eu mas, a minha visão para as coisas já nos tirou de algumas enrrascadas então pedi para que você acreditasse em mim dessa vez e você negou.
Não digo que é sua culpa mas você podia ter me ouvido pelo menos naquela vez, naquela noite em que supliquei..você se lembra?
Estou morrendo e isso não vai mudar porque estou te falando isso agora, não vai. Você pode continuar a sua vida normal, sem mim, mas eu estarei tão longe que em alguns anos você se esquecerá de mim, não irá me visitar e continuará sua vida normalmente e eu estarei só, abandonado sem ninguém, eu estarei morto é claro, mas não pela vida, pelos fatos... morto pelo amor.
Vou lhe contar um segredo, o único até hoje que eu não te contei. Lembra aquele dia no hospital? Minha última noite de vida? Pois então, eu ouvi você do outro lado da porta e sussurrei com esperanças de você ouvir. Bom, pelo jeito você não ouviu então eu vou te dizer agora.

Foram três toques na porta e eu ouvi passos vindo na minha direção, eram curtos e tímidos, pareciam querer ocultar-se de mim. Permaneci quieto, calado, sem fazer um único ruído, ali fiquei durante horas esperando para que você voltasse, esperando... para você me dizer a verdade, aquela que salvaria minha vida, aquela que você teve medo todo esse tempo de me dizer. Você sabe do que falo mas mesmo assim não sede o orgulho. Bom, pode deixar comigo.

Eu te amo... e foi esse o veneno que me matou.




14.12.2010
Sallut

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