Como dizia...
"...sentia frio preso àquela cadeira, meus ossos criando finas camadas de gelo respondiam dolorosamente aos tremores e bater de dentes que o frio me causava. Neste já não ouvia mais aquela goteira, parecia livre dela. Parecia. E preso tanto tempo notei que o tempo perdeu totalmente o sentido, o espaço inexistente, irrelevante. Só eu e minha consciência viva sentindo fio a fio cada sensação que a vida proporciona. Lembro de ter acordado de um sonho que já escrevi, estava aqui, e desse sonho despertei cheio de esperanças. Cheio de sonhos para o futuro.
Podia sentir alguma sensação no meu corpo e isso me deixou feliz a princípio, meu pé formigava. Primeiro começou o esquerdo pela ponta dos dedos, depois foi subindo até o pé direito também adormecer. A sensação de estar parado com o corpo adormecido é indescritível, pelo menos hoje.
Aquela sensação subia pela minha cintura espalhando arrepio na minha coluna, minhas costas coçavam e novamente surgia a ideia de asas que ansiavam por voo. Até que sinto todo meu corpo adormecido, meu primeiro pensamento foi de morte, pensei estar morto. Mas assim que pensei obtive minha resposta, e estava bem vivo. Respirei fundo e pude sentir meu pulmão leve como se nunca tivesse dado todos aqueles tragos em todas aqueles fumos. O ar do lugar onde estava parecia diferente, o frio que me torturava já havia ido embora e desistido de me arrancar o que quer que fosse. Estava só.
Foi neste momento que o sonho que tive me veio na mente, lembrei da esperança, lembrei da vida e de seu humor peculiar. Tive pensamentos como se me preparasse para alguma coisa, algo grande, algo que poderia me libertar. Abri os olhos e estava tudo negro como sempre esteve, mas em poucos instantes um fecho de luz desenha formatos do lugar onde estava e, depois de todo aquele tempo, finalmente vejo o que me cercava sentado naquela cadeira.
Havia um guarda-roupa antigo de madeira clara com alguns adesivos. Uma cortina cor rosa salmão, janelas brancas e uma escrivaninha com uma foto, alguns livros e pertences pessoais.
Na foto um menino com a camisa do Pai olhando direto para a câmera, prometendo algo que o futuro ansiava por revelar. E revelou, aqui está."
O resto você precisa ter paciência... mas olhe só onde já estou.
Sallut
20.09.2012
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