vinha de tão longe que minhas lembranças já nem sequer acompanhavam,
as botas que trazia nos pés eram apenas um sonho.
Meus olhos negros brilhavam o vigor de uma experiência específica,
meu espírito estava aceso e vivo, dia após dia, por algum motivo que eu não sabia.
Mas em todas as manhãs em que decidia levantar e viver outro dia, eu sabia
que deveria viver mais aquele dia. E caminhar o mais longe que eu puder
porque sei que afinal terei de caminhar n'outro dia. Longas caminhadas.
Nem sei onde quero chegar.
Hoje é dia sete do mês de março daquele ano quatorze.
Me perdi inúmeras vezes até encontrar as palavras certas e vir escrevê-lo.
Vivi um dia inteiro, acredite. Veja a hora que venho.
Mas venho com a certeza do que quero dizer, pois sei que há algo no meu pensamento esta noite.
É incrível esta intuição de que há algo que precisa sair, exatamente hoje.
Então eu dei play numa frequência que não costumo entrar... mergulhei lá
me deixei levar e boiar por pensamentos que não estavam nem aí para o que pensavam.
E eles me levaram pra lugares que eu nem sequer dei atenção
mas quando percebi que estava lá eu senti
Dentro de mim
seja lá o que for
me fazendo errar as letras
coçar as pálpebras.
Me agulhando como um fio de navalha recém afiada, pronta pra torturar um coração poeta...
com notas que fazem os pensamentos boiar. E lá vão eles...
...agora você pode me olhar dentro dos olhos, por um instante?
Mesmo que isto doa em teu Sol.
Sei que as feridas abertas já foram remediadas, e que isto não é desculpa para cutucá-las.
Mas um pequeno ponto dentro de mim acredita que eu eu devo seguir esta sombra.
Creio estar cego.
Você pode acreditar em segredos levianos que trás o teu Sol, brilhos incandescentes...
Mas eu sempre darei boas vindas à ideia que te trás aos meus pensamentos
porque eu me lembro de como seu sorriso me soa, e como seu toque me pega, seu toque...
E da mesma forma que as encontrei as perdi, as palavras.
Quando soube o que elas queriam fazer comigo quis fugir, mas já era tarde... eu estava lá no meio de todos aqueles pensamentos, enfiado numa frequência tão intensa quanto meu ser. Meu estar.
E eu me deixei levar, como plumas o permitem ao vento, como patos que boiam nas ondas, como o saxofone que deslizava do coração para os ouvidos, tranquilo e suave. Como se não quisesse parecer o intruso que é, acomodando-se lentamente em algum pequeno canto e escondendo-se na escuridão, procurando ocultar-se e cada vez mais tornar-se despercebido. Até o silêncio.
Quando o silêncio se propôs pareceu-me mais perigoso do que qualquer nota nostálgica que cutuca meu velho coração doído. O silêncio me fez pensar em todas as palavras que não disse, então dei boas vindas a outro sentimento novo que surgiu dentro de mim. O tempo, nostalgicamente, me levava de dia em dia, caminhando de pensamento em pensamento, com a intenção ou bel prazer de me fazer entender a mim mesmo. Como um velho cansado dando conselhos ao netinho juvenil enquanto alimenta os pombos, numa praça sem muitas pessoas, num dia frio e seco.
Dei boas vindas
ao tempo.
E o vi passar, segundo por segundo
acompanhava meu corpo deteriorar-se
via minha mente agindo entre planos e expectativas.
É engraçado observar sua própria personalidade quando se consegue ser frio o suficiente para isto.
Agora que estou aqui não posso fazer mais nada. Devo admitir. Sou refém de mim mesmo.
...e enquanto a ferida sangrava eu ria, gargalhava o mais alto que conseguia
pois eu era o culpado daquele sangue derramado. Era o meu próprio sangue.
Não que eu seja um louco insano perdido entre as próprias ações. Mas acabei por ferir-me a mim mesmo.
Reconheço meu erro e minha falha, a isto,
dou boas vindas ao tempo.
O tempo que vem, ao tempo que foi, ao tempo que virá.
Boas vindas. Pois todo tempo está aí. Para se viver e aprender.
Sabendo desde o início que um dia o tempo irá acabar e a luz do Sol irá apagar para mim
sabendo desde o início que qualquer ferida sangraria de qualquer jeito, e que fazemos curativos para isto.
Distraindo-se do fato de que o sol irá apagar um dia... quando, de repente.
Apaga.
E como o amor da sua vida entrando num avião e indo pro outro lado do planeta. Acaba.
Então você está entre pessoas novamente, bebendo, mas sozinho.
Todos descontraem-se ou fingem estar se divertindo no final de semana vazio que é suas vidas.
Dentro do seu peito você carrega um sentimento,
dentro da sua mente você trás uma frequência bem específica.
O copo de whisky acaba mas logo haverá outra doze. Nem é preciso pedir. Coisas ruins vem com o tempo.
É por isto que minha sombra sempre indica bons caminhos, pois me pergunto, que luz irá iluminar o caminho, afinal?
É uma simples pergunta que faço perdido entre a bebida e as feridas abertas sangrando...
Talvez a dor que eu sinta não seja tão insuportável, e eu seja apenas um menino sonhador...
Talvez. Talvez. Talvez.
Você não gostaria de saber como eu me sinto, nem o que aconteceu naquela tarde. Uma ferida fechada merece silêncio.
Entre uma dose e outros monstros juntos contigo no escuro eu prefiro formar um time.
Mas enquanto o tempo passa tudo bem, sou um bom menino. Estarei tentando
tentando recuperar o brilho do Sol.
Mas ele só brilha do outro lado do Planeta agora. Estou no lado escuro da Lua.
E enquanto meu Sol brilha para o outro lado inteiro do planeta, aqui estou sozinho com frio
pelo menos com whisky resfriado. Nada de cobertas ou uma fogueira.
Apenas uma mente afogada entre outro gole e suas lembranças.
Amanhece outro dia e a bebida acaba. No mercado existem outras garrafas, sem problemas...
mas o Sol nasce e meus olhos ardem cheios de remelas. Fico observando sentado na minha cadeira pela janela da frente enquanto ele vem, pelo Leste...
Onde é que está este Sol, afinal
vejo-o nascer para mim mais esta manhã. Aqui estou eu.
Mas, nossa, nunca senti tanta vontade de ver o meu Sol.
Este Sol que nasce tem sempre estas cores e sempre aquece o meu corpo, dá vida às minhas flores mais belas. Mas não é este...
Talvez não faça sentido esperar por um Sol que já não nascerá para mim.
Então eu penso que posso
diferenciar o céu do inferno
um céu azul da dor....
Mas ninguém poderá gritar-me que o que fiz foi completamente errado
pois o tempo me trouxe a outro sonho e aqui vivo uma vida boa, com uma boa brisa de vento
Foi a escolha que eu acabei tomando para mim. Dou boas vindas ao tempo, hoje.
Mas, sinceramente e do fundo do meu coração. Eu gostaria que você estivesse aqui.
Escrevi todas estas palavras para chegar nestas, afinal.
Já nem sei quem deveria estar aqui ou porque.
Mas como eu queria que você estivesse aqui,
porque me sinto perdido entre as ruas de asfalto e os prédios altos
talvez não faça sentido voltar como um cão arrependido para o lar que já tem outro filho.
Mas aqui estarei sobre a janela observando a lareira...
...os ventos levaram aquelas palavras embora e sopraram até misturar tudo de novo
os pensamentos já nem sabiam mais para que lado levar aquela mente insana
todo chão que pisava cautelosamente se transformava num palco de espinhos para eu cair
e deliciar todo o sangue que há em mim num espetáculo.
Alguns sentimentos nos trazem esta sensação de superação.
Até onde você suporta a dor?
Ha. O que é a dor, diga bem.
Por que você pensa que lágrimas caem quando está doendo?
Então não diga, apenas sinta. A dor.
Não importa. Não diga nada.
Você precisa entender porque só falta você. Você ainda é o único que não entendeu.
Se você é capaz de conhecer como igual a sua dor, faça isso... deixe de remediar.
Você pode. Acredite.
Mas se sentir-se fraco prenda os braços e pernas na cadeira, amarre-os se for preciso,
mantenha-se no controle. Isto sim.
E conduza o tempo ao caminho que deve tomar. Ou tome aquele caminho que achar melhor,
apenas reflita. Diga bem. O que é dor?
Você acha que pode tratá-la como um igual?
Digo para tomar cuidado onde pisa, estas perguntas podem te agulhar de uma forma inesperada
onde você quer chegar com tanta exuberância?
São apenas pensamentos. Levianos e gatunos. Sorrateiramente furtam algo que deveria estar dito, e desaparecem.
Voltam para dizer que faz um belo dia, ou voltam lembrando de uma música do Pink Floyd.
As vezes nem voltam e vem os novos. E mesmo estes conhecem o lugar e entram na frequência.
Porque, afinal, são os pensamentos. Eles saem de dentro de uma mente que já sabe o que tem.
Eu posso ser um perdedor fracassado, solitário e insano. Ter argumentos sem fundamentos e razões sem sentido, sonhos incabíveis e feitos inúteis. Diga...
O que quer de mim? Se não a verdade.
E a verdade é que eu amo. Sim. Amo de verdade.
Pois se não amasse não chegaria até aqui. Está é a lógica que pode ser falha.
Mas agora que estou aqui sinto a poesia tão viva quanto meus dedos cheios de câimbra de tanto digitar e saltitar entre as letras.
Sei que poderei pescar um sonho esta noite, mas assim que acordar pela manhã em que meus Tios irão embora não lembrarei de nada.
Então esta terá sido apenas outra noite de dia sete de março.
Sem muito significado. Sem muita importância.
Nenhuma história importante que te traga lágrimas de emoção. Óh...
Apenas pensamentos, aos que interessar...
Sallut
07.03.2014
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