Me mudei para Londres, em 1930, junto com o meu pai. Minha mãe havia morrido e éramos apenas nós dois sozinhos a mercê do destino. Nós compramos uma casa não tão luxuosa mas que comportasse nós dois com espaço e cômodo, contratamos alguns empregados e decidimos que seria assim. Apenas eu, meu pai e o silêncio representando nossa amargura pela perda de minha mãe.
Não tão tarde tive que ir a escola, e lá encontrei outras crianças como o esperado. Os primeiros dias foram suaves e tranquilos, até que conheci uma vizinha próxima... Elizabeth. O pai dela era farmacêutico e ia até a minha casa todo fim de mês para abastecer os analgésicos do meu pai, e foi numa dessas que a conheci, na minha casa.
Chegou doce e delicada como uma boneca cruzando a porta do quarto do meu pai junto com o pai dela, olhou para mim e sorriu ingenuamente. Retribuí e não nos falamos. Ficamos apenas trocando olhares intensos mas sem intenção durante todo o tempo que o pai dele esteve na minha casa. E isso se repetia todo final de mês, até que finalmente chegou o dia em que ela não foi. Me atrevi a perguntar ao pai dela sem pensar duas vezes onde estaria ela, o pai notara que eu sentia sua falta e nunca mais voltou a minha casa...
Meu pai não me puniu mas se trancou num silêncio mais profundo ainda, não me culpava mas também não perdoou minha indelicadeza, e nos mantemos em silêncio durante todos os anos que passavam lentamente para mim e para ele, como dor.
Depois de alguns meses me atrevi finalmente a visitá-la em sua casa, e lá estava eu, batendo em sua porta quando vejo seu rosto esgueirar-se pela janela procurando saber quem era, seus olhos se arregalaram ao me revelar e ouvi seus sapatos correndo pelas escadas em direção a porta, e quando a alcançou de repente parou e não abriu a porta, pensou duas vezes. Depois de alguns segundos a porta se abria lentamente e eu via surgindo da fresta escura um brilhante castanho claro, era seus olhos... sua cabeça foi vindo lentamente como surpresa, até que quando me viu abriu um largo sorriso e me puxou para dentro.
Fiquei um pouco assustado e pensei que em seu pai e no que ele faria se me pegasse ali, então subi as escadas com o olhar, degrau por degrau, e não encontrei ninguém, nem sequer um ruído. Voltei meu olhar para ela e sorri, e ficamos um olhando o outro num sorriso sincero e ingênuo. Sem intenções.
Fiquei um pouco assustado e pensei que em seu pai e no que ele faria se me pegasse ali, então subi as escadas com o olhar, degrau por degrau, e não encontrei ninguém, nem sequer um ruído. Voltei meu olhar para ela e sorri, e ficamos um olhando o outro num sorriso sincero e ingênuo. Sem intenções.
Ouvi a porta dos fundos rangindo então entrei em desespero, não sabia para onde correr e nem onde me esconder, e ela ficou ali parada tão calma...
Apenas abri a porta e saí correndo, corri alguns passos mas voltei.
- Me encontre no lago de noite.
E fui correndo sem esperar sua resposta, minha espinha tremia e congelava ao imaginar seu pai me punindo por estar lá.
A noite fui escondido ao lago, chego e me escondo perto de uma pequena árvore que tinha ali perto e a espero de dedos cruzados que chegue, passaram-se horas e junto com o caminhar da Lua sobre os céus iam minhas esperanças, desanimado. Olhei para o fim e vi uma estrela explodir como um raio de luz, e de repente senti algo tocar meu ombro. Pulei como um sapo de susto, olhei para o alto e vi ela sorrindo de minha reação... me acalmei e me deliciei em seu riso.
- Olá
- Você demorou
- Não pude sair tão cedo... me desculpe.
- O som da sua voz é tão doce... nunca a tinha ouvido antes.
- Podemos conversar bastante agora, não é?
- Como é seu nome?
- Achei que já soubesse. É Elizabeth. E o seu?
- Sou Pietro
- Quantos anos tem?
- Onze, e você?
- Tenho apenas dez.
...conversamos a noite toda, até a Lua ameaçar a ir embora e nos abandonar com todas as suas estrelas. Fomos para casa e dormimos, nos encontraríamos no dia seguinte. E no dia seguinte, e seguinte, e seguinte... nos encontramos até crescermos de vez, e nos apaixonarmos de vez.
Assim como o tempo veio para nós também veio para meu pai, que morreu quando eu tinha apenas 13 anos. Passei a viver sozinho da herança e dos cuidados dos empregados. Passei a viver sozinho apenas de amor o qual sustentava todos os meus dias com Liz.
Assim como o tempo veio para nós também veio para meu pai, que morreu quando eu tinha apenas 13 anos. Passei a viver sozinho da herança e dos cuidados dos empregados. Passei a viver sozinho apenas de amor o qual sustentava todos os meus dias com Liz.
Os anos se passaram e seu pai também foi deixando a vida, e decidimos morar juntos. Já estávamos maiores e vendemos uma das casas e passamos a viver juntos, e todos os dias em noite de Lua cheia íamos até a pequena árvore que já grande visitá-la, passar algumas horas juntos dividindo paixão e calor, e depois voltávamos quando a Lua começava a se retirar.
Os anos mais doces e bem vividos, apesar da amargura que apertava com força o meu coração eu vivi bem, vivi apaixonado.
O tempo veio para nós dois também, passamos várias fases até que chegamos a mais difícil delas... Liz partiu com 72 anos e me deixou só, completamente só. Sem papai, sem mamãe, sem amor, sem coração, sem nada... apenas saudades, e mais saudades. Lágrimas.
Mas assim como a vida o destino tinha algo confortável para me oferecer, algo o qual eu não pude e nem gostaria de correr...
Sallut
23.11.2011

Nenhum comentário:
Postar um comentário