Eu estava deitado na minha cama em um travesseiro grosso de penas de ganso, um cobertor que cobria apenas metade do meu corpo e estava escuro, muito escuro. A janela estava aberta, como de costume. Eu gostava de ver a Lua brilhar e eu podia observa-la com atenção enquanto deitado na minha cama, naquele dia eu não o fiz mas, não me arrependi.
Eu não fui assassinado e não me suicidei. Fui apenas morto, e pronto. Morto pelo veneno do amor. Ninguém o plantou em mim, e eu não escolhi isso... apenas aconteceu.
Ao contrário do que dizem, a minha vida não passou mesmo diante dos meus olhos naquele momento, foi muito diferente. Eu pus o meu travesseiro em cima do meu peito e fechei os olhos lentamente e deixei novamente que o meu dom de fantasiar tomasse conta daquele meu último momento, pensei nela. Imaginei que aquele pedaço de pano fosse ela deitada sobre mim.
Consegui finalmente criar cada detalhe. Criei seus olhos, seu lindo sorriso, criei seu lindo cabelo, suas curvas e seus traços perfeitos, sua pele doce como um pêssego, seu cheiro pelo qual eu era apaixonado. Criei até o modo como que você me abraçava, pois é. Eu criei tudo, eu criei uma segunda morte com você nos meus braços... criei o momento que eu esperei a vida inteira. Que irônia, não?
Eu esperei a vida inteira por aquele momento e, na minha morte eu pude criá-lo. Não pude satisfazer o desejo de torná-lo realidade mas, para mim foi real.
Meu coração satisfeito encheu-se de dor quando minha vista começou a pesar e, de repente, seu sorriso lindo fechou dentro da minha mente sem saber o porque. Entrei em desespero quando imaginei você se levantando da cama e correndo até a mesa discando o número de uma ambulância ou algo do tipo, sei lá. Olhei para você e abri um discreto sorriso, eu estava tão feliz naquele momento. Então você colocou sua mão pequena no meu rosto e me beijou e foi naquela hora que eu morri.
Senti o calor do seu beijo entrar lentamente pela minha boca e descer pela minha garganta e se espalhar por todo o meu corpo, foi fantástico.
Olhei para o lado e vi o relógio, eram 15:15. Sorri.
Me esforcei para voltar os olhos para você mas quando eu vi seu cabelo se agitando com o vento invadindo o quarto eu adormeci. Adormeci para sempre num sonho real.
Foi estranho como o meu maior desejo da vida realizou-se na minha morte... mas eu aceitei e parti sorrindo, parti confortável. Parti levando guardado comigo o calor daquele beijo que nunca aconteceu.
Sallut
14.03.2011
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