Estava eu em São Thomé das Letras curtindo o meu feriado prolongado com um grupo gigante de amigos, quando se aproximou do nosso grupo, uns rapazes aparentemente normais. Perguntaram onde ficava a cachoeira de Shan-Gri-Lá (existe mesmo uma cachoeira com esse nome na cidade), e nós indicamos o caminho, mas dissemos que poderíamos oferecer carona, já que íamos para uma cachoeira próxima. Eles agradeceram e entraram no carro que eu ia. Botei Usher no último volume e pegamos a estrada. Do nada eu só ouço a voz do meu irmão:
_ Ow, cê tá louco, maluco? Que que é?
Diminuí a velocidade e olhei para trás. Ao que parecia, os rapazes acharam que ia rolar uma suruba entre a gente e por isso aceitaram a carona. Depois do stress resolvido e as questões sexuais esclarecidas, seguimos, mas conversávamos como se fossemos um grupo de amigos de muitos anos. Brincamos com a situação e eles nos contaram uma história muito bizarra, que tentarei reproduzir abaixo.
Estavam em São Thomé a quase um mês, e tinham ido atravessar a gruta que ligava Minas Gerais até o Machu Pichu (sim, existe essa lenda e a gruta existe, mas qualquer ser humano normal deve saber que isso é geograficamente impossível). Quando chegaram, encontraram um tiozinho que vendia CHURROS DE MACONHA (eu tive um ataque de riso tão grande, que fui obrigado a entregar o volante pro meu primo que estava o meu lado). Eles disseram que comeram o churros do tiozinho e entraram na gruta, e andaram por quase 12 horas. Dissemos que era impossível, mas eles pareciam muito sérios em afirmar isso. Mas o pior estava por vir: eles disseram que morava no meio da gruta uma grande família de hipopótamos que FALAVAM PORTUGUÊS!!! Mais uma vez eu quase botei o diafragma pra fora de tanto rir. E o pior de tudo, eles acreditavam MESMO que tinha visto hipopótamos que falavam português. Perguntamos se eles estavam brisando e tal, mas não pareciam estar. Quando deixamos eles na cachoeira, pediram desculpa pelo assédio, chamou todo o nosso grupo de “gatos lindos e gostosos” e deram pra gente um saquinho cheio de umas frutinhas redondas, ainda com folhas no talo. Disseram que eram alucinógenos da região (coisa que eu nunca tinha ouvido falar) e nos aconselharam a comê-las à noite, acompanhado de alguma coisa alcoólica. Eu, como todo bom historiador desencanado, experimentei, e depois de uma tontura básica, comecei a ver tudo saturado de cor, tudo era lindo, o mundo brilhava. Isso é o carnaval. E depois tem gente que ainda considera o lixo burguês e caríssimo das “vias do samba” como carnaval brasileiro. Com exceção das mulatas, nunca gostei do carnaval burguês. Para mim, a festa de verdade é nas ruas, nos blocos, no divertimento com amigos vestidos de Arlequim e Colombina. Isso sim é carnaval. O resto... é o resto.
Lior Klaus
Nenhum comentário:
Postar um comentário