Uma flecha foi lançada de longe, de tão longe. Mas assim que foi atirada eu senti a dor no meu peito como se já tivesse me penetrado, me destruído. Acertou bem no meio, não no coração.
Fiquei meio sem rumo e cambaleei para o lado indo violentamente contra a parede fria daquela rua, daquele lugar escuro. Fui deslizando lentamente deixando o meu sangue pintado na parede como uma arte. Sim, uma arte. A arte de sofrer amando.
Meus olhos transbordam e minha pele fica estranha, fico estressado e afasto as pessoas de mim para não perturba-las com o meu desabafo. Decidi adormecer...
Me guardei num caixão de madeira escura e pedi para que o meu melhor amigo me enterrasse e me deixasse lá, me esquecesse. Fiquei tanto tempo preso que quando o meu oxigênio acabou eu já não podia diferenciar sofrimento de angústia, ódio de prazer. Não conseguia distinguir nada de nada, estava morto.
Já na minha cova me senti bem e sem culpa, ninguém se lembraria mesmo de que eu havia morrido pois em suas lembranças deixei a vida no momento que decidi amar. Amar.
...e isso é só um fato que me incomoda, que me distrai. É só uma solução idiota que me deixa agoniado me revirando mesmo morto, no caixão.
Eu me esqueci que me deitei naquela cama fechada de madeira com a foto dela no bolso esquerdo da minha calça, eu me esqueci. Droga! Me esqueci. Preciso voltar, preciso voltar.
Eu só preciso esticar um pouco os meus dedos e franzir a testa para que eu a alcance pela última vez num último suspiro, numa última tentativa.
E de repente tudo ficou mais escuro ainda, a minha visão não se acostumou à nada e o fogo dentro de mim manteve-se vivo mas congelou-se, simplesmente parou de se mexer sugando o meu oxigênio. Foi quando levantei ofegante dentro do meu caixão e bati a minha cabeça no teto, eu estava desesperado.
Sem ar, deslizei rapidamente o meu braço por toda a minha perna e puxei a minha calça para cima, enfiei a mão no bolso e encontrei. Estava lá!
Com a mão na foto eu me acalmei e sorri, fui retirando-a lentamente do meu bolso a levando para perto do meu rosto, a coloquei bem de frente para mim e respirei fundo.
Num suspiro sem força e com dificuldades eu pronunciei minhas últimas palavras:
- Mesmo morto o meu coração insiste em bater por você. _perdendo as forças minha mão foi cedendo ao peso do braço que lentamente depositou-se sobre o meu próprio peito. - Mas estou feliz que no meu último momento, você esteja aqui.... mesmo não estando.
Sallut
21.03.2011
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